Flores no Calendário

Este “saite” tem dois objetivos 

O primeiro é estimular que olhemos com mais atenção para nossa exuberante natureza, em especial para nossas flores. Essa natureza costuma nos passar muitas vezes despercebida, em parte porque os leigos, como eu, a conhecem tão pouco.

O segundo, é contribuir para romper a visão deformada de nossa natureza idealizada, resultado de uma “nostalgia de colonizado” relativa ao cenário natural europeu que acreditamos nosso, mas que definitivamente não nos pertence. Coloquei recentemente no Google a pesquisa sobre “quatro estações do ano” (imagens) e o resultado foi uma série de representações como as mostradas a seguir.

Extrato da consulta ao Google sobre estações do ano

Nelas o inverno se caracteriza por uma paisagem nevada,  o outono por folhas caindo, o verão pelo sol e praias e a primavera pelas flores. Tudo bem, para o sol e as flores, mas é só nestas estações que, no Brasil, temos sol e flores?

O mais trágico é que a maioria das figuras mostradas  pelo Google  são destinadas a ensinar nossas crianças como são as estações. A lição que elas acabam aprendendo no processo escolar é que se quiserem uma boa nota devem esquecer a realidade da natureza que as circunda e responder que a paisagem nevada e as árvores peladas correspondem ao inverno e que a estação das folhas caídas é o outono. Na coleção de imagens mostradas no Google, estava a de uma prova escolar na qual o aluno deveria identificar cada estação com as figuras do estereótipo europeu.

Entre as fotos que tirei para documentar a evolução de nossa flora, está a do Urucu, cujas folhas caem em outubro, em plena primavera. Pode-se ver as folhas amarelas, prontas para cair e as marrons no chão, convivendo com as verdes que irão cair na próxima primavera.

Urucuzeiro cujas folhas amarelecidas caem, em outubro, na primavera de Brasília.

Nossas crianças, no ambiente que vivem, não encontram os cenários e as características das estações que vêm nos livros. Para aumentar a confusão, a publicidade onipresente as faz sonhar com natais com muita neve e um Papai Noel agasalhado, trazendo presentes em um trenó puxado por renas.

A ideia de um Calendário Floral, idealmente para cada bioma brasileiro, pode ajudar a nos colocar em maior contato com uma natureza brasileira muito rica, que não precisa nem deve conflitar a repassada pela propaganda e até por livros escolares alienados.

Como ensaio, estamos nos propondo a falar inicialmente do Aterro do Flamengo (Litoral Sudeste) e de Brasília (Cerrado) que me são mais próximos e nos colocamos à disposição de nossos eventuais colaboradores para difundir o calendário da flora de outros ambientes.

Ao completarmos um século do Semana de Arte Moderna de 1922, que resultou no Manifesto Antropofágico de 1928, está mais do que na hora de nos reconciliarmos com a paisagem e, mais ainda, com a gente brasileira. 

O Manifesto, foi publicado no nº 1 da “Revista de Antropofagia”. Segundo o único signatário  do manifesto, Oswald Andrade, o objetivo do movimento era “deglutir o legado cultural europeu e digeri-lo sob a forma de uma arte tipicamente brasileira”.

Convido a nossos leitores a participar de nosso “saite”, nos enviando fotos e pequenos vídeos, com a indicação de data e localização. Pedimos também que contribuam para identificar e corrigir o material exposto.

Para isto, além dos espaços para comentários no canal do Youtube “Calendário Floral”, e em nossa página http://calendariofloral.com, oferecemos ainda o e-mail calendariofloral@gmail.com,

um abraço de Carlos Feu ,

Calendário Floral: Outubro

 

Nota 1: O vídeo acima é o primeiro, relativo ao mês de outubro que contem muitas flores que ainda não consegui identificar com certeza. Ficaríamos muito grato com a colaboração dos leitores para sua identificação (nome vulgar e científico).   Provisoriamente, ele reúne flores no cerrado (a maioria) e no Parque do Flamengo, Futuramente eles estarão separados por árvores no bioma, não obrigatoriamente originários dele.

Nota 2: Os apicultores das diversas regiões do Brasil tem seu calendário floral usado na apicultura. Estes calendários podem ser muito úteis para nossa iniciativa, embora eles se concentrem, como é natural. no interesse quantitativo para a produção do mel.
Existe também um calendário apícola que resume o manejo que o apicultor faz em suas colmeias. Um vídeo do professor e zootecnista Pedro Santos, doutor em produção animal (apicultura) acaba chamando a atenção para um assunto que tem tudo a ver com a preocupação que levantamos. Em resumo, ele contesta o valor do calendário apícola pré-fabricado que leva em conta o paradigma europeu, baseado nas estações do ano nitidamente marcadas e na monocultura regional. Ele dá exemplo de uma sub-região, perto de Maringá e produtora de laranja, onde o apicultor, seguindo o manual, estaria dando suplementação alimentar para sua colmeia quando suas abelhas estariam em plena fase de produção.

Vale a pena assistir seu vídeo colocado abaixo.